Germinal é um livro de Émile Zola, trata-se de uma história sobre mineradores, que indignados com as condições de sobrevivência na vila mobilizam uma greve e em cima disto e de toda a violência resultante da desigualdade social que eles sofrem. É um livro com ar invernal, melancólico, segundo minha classificação. Vale a pena ler.
Mas dentre todas as partes, uma que eu sempre volto para ler, e me causa frouxos de riso, é a aparte que mulheres revoltadas fazem um quebra no mercado de um vendedor chamado Maigrat: usurário, muito avarento e que se aproveitava das mulheres necessitadas em troca de mercadorias
Em um momento de fúria, elas o perseguem e por fim, arrancam o saco escrotal do dono da venda, isso mesmo arrancam o saco peludo do cara, veja no trecho na íntegra:
"A turba tinha visto Maigrat esgueirando-se pelo teto do galpão. Na sua ânsia,
apesar do seu peso, ele subira agilmente pela latada, sem se preocupar com as ripas que
quebravam; e agora espichava-se ao longo das telhas, esforçando-se para atingir a
janela. Mas a inclinação era muito forte, sua barriga o estorvava, suas unhas estavam
sendo arrancadas. Assim mesmo ter-se-ia arrastado até a cumeeira, se não tivesse
começado a tremer de medo de receber uma pedrada, já que a multidão, que ele não
conseguia ver, continuava a gritar lá de baixo:
— Pega o gato! Pega o gato! Vamos fazê-lo em pedaços!
E bruscamente, suas duas mãos se soltaram, ele rolou como uma bola, bateu na
biqueira e caiu atravessado na parede-meia, tão desastradamente que foi espatifar-se na
rua, onde abriu o crânio no ângulo de um marco. O cérebro esguichou. Estava morto. (...)
Em seguida recomeçaram os gritos. Eram as mulheres que se precipitavam,
presas da embriaguez do sangue.
— A justiça tarda mas não falha! Ah, porco, morreste, enfim! Rodearam o cadáver
ainda quente e começaram a insultá-lo com gargalhadas, chamando de coisa imunda sua
cabeça despedaçada, berrando na cara da morte o longo rancor de suas vidas sem pão.
— Eu te devia sessenta francos, já estás pago, ladrão! — gritou a mulher de
Maheu, tão enfurecida quanto as outras. — Nunca mais vais negar-te a me vender fiado...
Espera! Espera! Vou engordar-te mais ainda.
Começou a cavar a terra com as duas mãos, tomou dois punhados e os enfiou
violentamente na boca do cadáver.
— Vai, come! Vamos, come, come, tu, que nos comias!
As injúrias eram cada vez mais violentas, enquanto o morto, estendido de costas,
imóvel, olhava com seus grandes olhos vidrados o céu imenso de onde descia a noite.
Aquela terra, enfiada na sua boca, era o pão que ele tinha recusado. E, de agora em
diante, só comeria desse pão. Esfomear os pobres não lhe trouxera felicidade.
Mas as mulheres ainda queriam vingar-se. Rodeavam-no, farejando como lobas.
Todas arquitetavam um ultraje que as desafogasse.
Ouviu-se a voz áspera da Queimada:
— Vamos castrá-lo como a um gato!
— Vamos! Ao gato! Mãos à obra! Esse asqueroso já fez demais o que não devia!
Imediatamente a filha de Mouque começou a abrir-lhe a braguilha e a puxar-lhe as
calças, enquanto a mulher de Levaque levantava as pernas do morto. E a Queimada, com
suas mãos secas de velha, abriu-lhe as coxas nuas e empunhou a virilidade morta
Segurou tudo e fez tal esforço para extirpar o membro que suas costas magras se
distenderam e seus braços enormes estalaram. Mas a pele mole resistia, ela teve de
atracar-se novamente e acabou arrancando o despojo, um pedaço de carne cabeluda e
sangrenta que agitou no ar com uma gargalhada de triunfo:
— Pronto, aqui está!
Vozes esganiçadas saudaram com imprecações o horrível troféu:
— Ah, desgraçado! Não engravidarás mais as nossas filhas!
— Chega! Não te pagaremos mais com a nossa carne! Nunca mais teremos de
abrir as pernas para conseguir um pão!
— Olha, eu te devo seis francos... Queres fazer uma brincadeira por conta? Eu
estou pronta, se tu ainda podes!
Este gracejo sacudiu-as com uma gargalhada feroz. Passavam umas às outras a
carne pingando sangue, como um animal tinhoso que cada uma tivera de suportar e
acabavam de esmagar, que agora tinham ali, inerte, à sua mercê. Cuspiam em cima,
arreganhavam os dentes, repetindo, numa furiosa explosão de desprezo:
— Ele não pode mais! Ele não pode mais! Já não é mais um homem que vai para
a cova! Começa logo a apodrecer inútil!
A Queimada, então, espetou o naco de carne na ponta da sua vara, e, levantando-o bem alto, como um estandarte, empreendeu a marcha, seguida pela debandada
ululante das mulheres".
Eu li esse livro em 2008, se não me engano, até hoje eu começo a rir quando eu lembro dessa parte.
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Matéria movida para o blog dos anos 90, 2000 e 2010 Memória Millenial. Visite o link abaixo: https://memoriamillenial.blogspot.com/2024/...
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