domingo, 24 de dezembro de 2017

Natal na Barca... Furada!

Dingobel, dingobel acabou papel... Acabou nada! Eu trouxe hoje uma das únicas sessões de qualidade deste bendito blog: Literatura.
Lembro da primeira vez que li este conto de Lygia Fagundes Telles e do misto de sensações que ele me trouxe e culminando no final singelo, porém expressivo e que traduz uma das facetas do espírito natalino. Aliás, o livro do qual ele foi tirado, "Para Gostar de Ler", foi um dos primeiros que tive contato com contos e crônicas e me apaixonei à primeira vista. Vale MUITO a pena conferir a coleção.


Natal na barca

Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.

O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.

Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.

Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.

A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o. rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.

— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão. 

— Mas de manhã é quente.

Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.

— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.

— Quente?

— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?

Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta: 

— Mas a senhora mora aqui perto?

— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje...

A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale preto, mas o rosto era sereno.

— Seu filho?

— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem mas piorou de repente. Uma febre, só febre... Mas Deus não vai me abandonar.

— É o caçula?

Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo mas o olhar tinha a expressão doce.

— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito... Tinha pouco mais de quatro anos.

Joguei o cigarro na direção do rio e o toco bateu na grade, voltou e veio rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente, embora. Mas vivo.

— E esse? Que idade tem?

— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado... A última mágica que fez foi perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.

Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. E agora não tinha forças para rompê-los.

— Seu marido está à sua espera? 

— Meu marido me abandonou.

Sentei-me e tive vontade de rir. Incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta porque agora não podia mais parar, ah! aquele sistema dos vasos comunicantes.

— Há muito tempo? Que seu marido...

— Faz uns seis meses. Vivíamos tão bem, mas tão bem. Foi quando ele encontrou por acaso essa antiga namorada, me falou nela fazendo uma brincadeira, a Bila enfeiou, sabe que de nós dois fui eu que acabei ficando mais bonito? Não tocou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café, leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda fez assim com a mão, eu estava na cozinha lavando a louça e ele me deu um adeus através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver ninguém falar comigo com aquela tela no meio... Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.

Olhei as nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma certa irritação me fez andar.

— A senhora é conformada.

— Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou. 

— Deus — repeti vagamente.

— A senhora não acredita em Deus?

— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...

Ela mudou a posição da criança, passando-a do ombro direito para o esquerdo. E começou com voz quente de paixão: 

— Foi logo depois da morte do meu menino. Acordei uma noite tão desesperada que saí pela rua afora, enfiei um casaco e saí descalça e chorando feito louca, chamando por ele! Sentei num banco do jardim onde toda tarde ele ia brincar. E fiquei pedindo, pedindo com tamanha força, que ele, que gostava tanto de mágica, fizesse essa mágica de me aparecer só mais uma vez, não precisava ficar, se mostrasse só um instante, ao menos mais uma vez, só mais uma! Quando fiquei sem lágrimas, encostei a cabeça no banco e não sei como dormi. Então sonhei e no sonho Deus me apareceu, quer dizer, senti que ele pegava na minha mão com sua mão de luz. E vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso. Assim que ele me viu, parou de brincar e veio rindo ao meu encontro e me beijou tanto, tanto... Era tamanha sua alegria que acordei rindo também, com o sol batendo em mim.

Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei um gesto e em seguida, apenas para fazer alguma coisa, levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança. Deixei cair o xale novamente e voltei-me para o rio. O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto.

Debrucei-me na grade da barca e respirei penosamente: era como se estivesse mergulhada até o pescoço naquela água. Senti que a mulher se agitou atrás de mim 

— Estamos chegando — anunciou.

Apanhei depressa minha pasta. O importante agora era sair, fugir antes que ela descobrisse, correr para longe daquele horror. Diminuindo a marcha, a barca fazia uma larga curva antes de atracar. O bilheteiro apareceu e pôs-se a sacudir o velho que dormia: 

- Chegamos!... Ei! chegamos! 

Aproximei-me evitando encará-la.

— Acho melhor nos despedirmos aqui — disse atropeladamente, estendendo a mão.

Ela pareceu não notar meu gesto. Levantou-se e fez um movimento como se fosse apanhar a sacola. Ajudei-a, mas ao invés de apanhar a sacola que lhe estendi, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo, afastou o xale que cobria a cabeça do filho.

— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

— Acordou?! 

Ela sorriu: 

— Veja...

Inclinei-me. A criança abrira os olhos — aqueles olhos que eu vira cerrados tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face corada. Fiquei olhando sem conseguir falar.

— Então, bom Natal! — disse ela, enfiando a sacola no braço.

Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa e acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite.

Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim retomando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.


Texto extraído do livro “Para gostar de ler – Volume 9 – Contos”, Editora Ática.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Damião Experiença - Parte 2 - O Dossiê

"Vou para a praia ver as piranhas nadar".  Damião Experiença - A Praia das Piranhas e dos Chifrudos
Damião Experiença é um mito da cultura underground brasileira, sobretudo da música. Faz jus à máxima "vim para confundir e não para explicar"; era uma contradição ambulante e irei explaná-lo no dossiê de hoje, que está baseado no que eu ouvi das suas músicas e pelo que li na sua biografia.


Nasceu em Lauro de Freitas - Bahia, na localidade de fazenda Portão (hoje é um bairro), fugiu de casa muito cedo por que seus pais lhe davam muita porrada


Fugiu escondido em um navio para o Rio de Janeiro, tornou-se marinheiro e depois cafetão e gigolô, segundo sua biografia


Dizia ser nazista, adorava Adolfo Hitler e ao mesmo tempo se autoafirmava judeu


Teve seu nome artístico inspirado em Jimi Hendrix Experience


Era a favor da ditadura e contra a abertura, mas se dizia comunista


Adorava a União Soviética e dizia que quando morresse todas as suas coisas pertenceriam a ela, mas também admirava os EUA


Adorava mulheres lésbicas: "a mulher mais inteligente, mais honesta, mais sincera". Sua lógica dizia que a mulher lésbica só poderia te trair com outra mulher mas a hétero traía com outro homem, o que implicaria em um chifre (coisa que Daminhão parecia ter trauma por que certamente deve ter levado um em algum momento da sua vida) e que você era "gilete" (homem que gosta de mulher e dar a bunda também)

Outros ícones, talvez venerados por ele, citados em suas letras: "Elisabelita Perón", "Coronel Khadafi", "Eva Abrão"

Dizia ser um habitante vindo do Planeta Lamma: sete palmos debaixo do chão, onde não havia distinção de rico, pobre, branco ou preto, clara referência à morte e sepultura


Inventou o dialeto do Planeta Lamma, que sempre falava nas suas músicas, que ouvindo parece uma mistura de inglês com um monte de loucura misturada


Nas músicas, tocava um violão que parecia ter quatro cordas e uma gaita


Financiava todos os seus discos e fazia questão de falar isso nas gravações (0% lei Rouanet)


Damião saiu da Marinha quando caiu de um mastro e bateu a cabeça. Talvez isto tenha agravado ainda mais a sua "loucura"


Seus discos tinham os mais variados nomes, tais como Cemitério Nazista II, Planeta Quentão, Cheirando Alho no Planeta Lamma, AdeusAdolfHitler1945Fim, Planeta Lavoura, Planeta Cabelo, e as músicas títulos como: Pato, Galinha, Café, Pão, Queijo, UOC, SOM, Loucura total 1999, Que dor que eu sinto


Damião morreu em dezembro de 2016 e o que mais me interessou na sua história foi como ele conseguiu lançar tanto disco com títulos e músicas que poderiam ser considerados subversivos e fazer tantas referências à União Soviética em pleno Regime Militar Brasileiro (1964-1985). Sem dúvidas, foi uma história bastante intrigante e um artista único no Brasil.

Deixou um site com toda a sua discografia, biografia e fotos, todos disponíveis para download gratuito. Certamente organizado por fãs.

 Site: Portão do Daminhão


Há também o documentário-curta metragem do Damião Experiença no Youtube.





segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Pepe, KEK & Meme Magic

Catei essa postagem bastante interessante de um blog que está fora do ar e não pude mais achá-lo para citar como referência em um link, mas enfim, postando aqui.
Sou fanático por culturas de internet (inserindo uma nova tag no blog) e por coincidências. Essa história é uma delas e, como sempre na web, brotou do 4chan... Texto na íntegra abaixo:


Quem em sã consciência poderia imaginar que uma das figuras mais influentes e controversas da campanha presidencial americana de 2016 seria um sapo verde desenhado? Mas foi Pepe, cuja imagem foi tirada de uma série de histórias em quadrinhos chamada Boy’s Club, que se tornou o improvável rosto de um movimento cultural liderado por uma geração de jovens, muitos dos quais jamais haviam se envolvido com política, que balançou a corrida presidencial mais importante do mundo.
Ele foi declarado um “símbolo de ódio” pela Anti-Defemation League, ganhou seu próprio cantinho no site oficial da campanha de Hillary Clinton e foi até “deserdado” por seu criador, Matt Furie, que tentou pateticamente desapropriar Pepe da cultura que o transformou num deus. Mas nada foi capaz de parar a magia do sapo verde.




Criado em 2005, a imagem do sapo  começou a ser usada na internet em 2008, relacionada à reação “Feels good, man”. No ano seguinte, uma versão alterada da imagem, acompanhada dos dizeres “Feels bad, man” começou a ganhar tração. Seria essa encarnação que traria maior fama a Pepe. O sapo permaneceu como parte do lore visual da internet por anos, com uma imagem ilibada, sendo usado até por famosas como a uber-liberal Katy Perry e a rapper Nicki Minaj em 2014.
Pepe era um espelho de pessoas que viviam a maior parte do seu tempo de frente pro computador, geralmente usado para ilustrar as várias derrotas do dia-dia na convivência social, assim como as pequenas e prazerosas vitórias da vida. Mas tudo começou a mudar em 2015, com o aquecimento das primárias presidenciais e o anúncio de candidatura de Donald Trump. Assim como Ron Paul em 2012, Trump foi o escolhido como favorito pela maioria do /pol/, o board sobre política do 4chan. Ainda em outubro de 2015, Trump deu retweet em uma imagem de Pepe com a sua cabeleira característica, de pé no púlpito do presidente dos Estados Unidos. Começava a jornada política do sapo.

Por volta da mesma época, o termo “Meme Magic” começou a se tornar um meme em si. Usado para descrever a correlação entre o uso da personagem Ebola-chan e o aumento da epidemia do vírus homônimo no mundo real, o termo só encontraria Pepe no fim de 2015, quando surgiram as primeiras comparações entre o sapo verde e Kek, uma deidade egípcia.
Kek (também conhecido como Kuk, Keku e Kekui) era a deificação do conceito de escuridão primordial. Basicamente, ele era o invocador da luz, com sua presença servindo de presságio para o amanhecer. O deus era andrógino e possuía também uma versão feminina – chamada de Keket (ou Kekuit). Enquanto o masculino era retratado como um homem com cabeça de serpente, a feminina possuía a cabeça de um sapo – representações que foram invertidas no período greco-romano, com o masculino assumindo a aparência do anfíbio.

‘Kek’ também é uma onomatopeia coreana oriunda de ㅋㅋㅋ com ㅋ significando o som de K. Ela é usada para representar uma risada marota, não diferente do “kkkkkkkk” comum no Brasil. O termo apareceu com a popularização do primeiro Starcraft na Coreia do Sul. Como o jogo não suportava a linguagem coreana, jogadores ao invés de digitarem ㅋㅋㅋ adaptavam a expressão para “kekeke”. Anos depois, em World of Warcraft, a comunicação entre membros de diferentes facções, Alliance ou Horde, era proibida. Assim, todo texto digitado passava por um tradutor in-game que tornava a mensagem indecifrável para membros do grupo rival. ‘KEK’ era usado quando um jogador digitava ‘LOL’.
Com tudo isso, era inegável a ligação entre a imagem de Pepe e o deus egípcio Kek. A crença era que através da Meme Magic e de seu avatar moderno, Pepe, Kek influenciava o mundo, realizando os desejos de posts no 4chan cuja numeração terminava com dígitos duplos, feitos chamados de ‘GET’. Em 19 de junho de 2016, tudo se alinhou quando um post conseguiu o mítico 77777777, com o 7 geralmente sendo um número de sorte em várias culturas ao redor do mundo. A mensagem do post era simples e direta: “Trump will win” (“Trump irá vencer”, acima).

Em 13 de setembro de 2016, uma antiga música italiana chegou à atenção do /pol/. Lançada em 1986 e intitulada “Shadilay”, a faixa era de um artista chamado P.E.P.E. e a imagem impressa no vinil do single era um sapo verde sorrindo enquanto brandia o que parece ser uma varinha mágica sob os dizeres “Magic Sound”. Era mais um exemplo do poder atemporal da meme magic.
Além de tudo, “Shadilay” era uma música contagiante, cuja letra podia muito bem ser relacionada ao /pol/ e à meme magic em si. 

Enquanto isso, na corrida presidencial, durante um movimento para denunciar a Alt Right que apoiava Trump, Hillary Clinton, através dos satélites do Partido Democrata, começou uma campanha para demonizar a imagem de Pepe – dedicando uma página em seu website oficial para explicar a relação entre o meme e “supremacistas brancos”, num claro ataque ao /pol/. A postagem foi feita em 12 de setembro, exatamente um dia antes da música “Shadilay” emergir no fórum de política do 4chan.
Na mesma época, a Anti Defamation League, uma ONG internacional judia formada com o intuito de combater a perseguição religiosa, declarou Pepe um “símbolo de ódio” devido ao seu uso por “supremacistas brancos e anti-semitas” – tudo claro, memes oriundos do 4chan. A declaração, junto do post da campanha de Hillary, alçaram Pepe à fama mainstream, sendo reportado em jornais, talk shows e telejornais ao redor do mundo, ao mesmo tempo que as acusações eram ridicularizadas na internet.

Porém, ainda faltava a vitória e, na manhã do dia 8 de novembro de 2016, o cenário era sombrio para Trump. Abandonado por companheiros de partido, execrado pela mídia liberal, as pesquisas apontavam quase – se não nenhuma – chance de vitória para o magnata republicano. A questão não era se Hillary ganharia ou não, mas o quão gigante seria a lavada.
No entanto, a profecia do 77777777 se realizou e naquela noite Donald Trump chocou o mundo ao vencer 30 estados mais o distrito ME-02 do Maine, totalizando 304 votos no colégio eleitoral contra 227 da rival democrata.

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É fácil ver por que a figura de Pepe foi tão abraçada pela cultura da internet. Seu arco reflete a progressão de muitos anônimos e pessoas comuns, de pessoas apolíticas e solitárias em 2009, ao despertar político em 2014 com a guerra cultural, chegando ao status de mago da meme magic e soldado da “Great Meme War” entre 2015 e 2016. Pepe não era somente o avatar moderno de Kek, o invocador da luz. Ele era toda uma geração.
Mas acima de tudo, Pepe é o símbolo do choque cultural entre o mainstream e a cultura caótica da internet. Seu rosto se tornou um símbolo de rebeldia, de deboche à mídia tradicional e o seu aparato político-partidário. Não foi a política que fez Pepe, Pepe fez a política.
Com a ajuda de Kek e a meme magic, claro.




Aqui a Shadilay. Aperte o play para balançar as esqueletas. 

 

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Finalmente, a sequência da Noite das Laranjas Assassinas está aqui! É a continuação da história, explorando os acontecimentos das laranjas...