terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sou o Pica e Você a Flor...

Gregório de Mattos foi um poeta da época do Brasil colônia, mas desde aquele tempo o cara colocava muita lenha na fogueira. Viveu na Bahia, mais precisamente Salvador, a primeira capital do país.
Era apelidado "Boca do Inferno", pois ele soltava os bichos contra tudo e todos com suas poesias satíricas, desde a cidade até os tipos que viviam na época: escravos, índios, fidalgos, padres, freiras, mercadores, ladrões e funcionários da corte portuguesa. E fazia o uso de palavrões pesados, o cara descia a ladeira totalmente quando o quesito era baixo calão. Imagina só para a época!?
Vale a pena conferir a sua obra, pois além das poesias satíricas, tem também as de cunho amoroso, reflexivo e religioso.
O cara zoava tanto e tocava o terror com suas poesias na colônia que foi preso e degredado (mandado para outra colônia) por muitas e muitas vezes.
Há uma porrada de poesias de Gregório que falam sobre putaria abertamente, vou postar uma delas logo abaixo também.
A história desse primeiro poema é a seguinte: uma freira, uma freirinha, coitada, brincou com a fisionomia delgada, magra, de Gregório e ele certamente ficou muito puto. Aproveitou o impulso e escreveu este poema em resposta à coitada da freira que imagino ter ficado com uma vergonha daquelas! Mas é como diz o ditado: NÃO MEXA COM O QUE ESTÁ QUIETO!
O segundo poema fala sobre a cidade de Salvador "De dous FF se compõem esta cidade: um furtar o outro foder", o título é auto explicativo. 
E o terceiro poema fala sobre alguns tipos que o Gregório adorava descer o pau.
Lá vai:



A uma freira que satirizando a delgada
fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor".


Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Meteia a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.





Define a Sua Cidade


De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito: 
por bem digesto, e colheito 
só com dous ff o expõe, 
e assim quem os olhos põe 
no trato, que aqui se encerra, 
há de dizer que esta terra 
de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta 
está a nossa Bahia, 
errada a ortografia, 
a grande dano está posta: 
eu quero fazer aposta 
e quero um tostão perder, 
que isso a há de perverter, 
se o furtar e o foder bem 
não são os ff que tem 
esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco: 
Bahia tem letras cinco 
que são B-A-H-I-A: 
logo ninguém me dirá 
que dous ff chega a ter, 
pois nenhum contém sequer, 
salvo se em boa verdade 
são os ff da cidade 
um furtar, outro foder.


TORNA A DEFINIR O POETA OS MAOS MODOS DE OBRAR NA GOVERNANÇA DA BAHIA, PRINCIPALMENTE NAQUELA UNIVERSAL FOME, QUE PADECIA A CIDADE.

Que falta nesta cidade? ...................... Verdade
Que mais por sua desonra ................. Honra
Falta mais que se lhe ponha .............. Vergonha.

O demo a viver se exponha,
por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onda falta
Verdade, Honra, Vergonha.


Quem a pós neste socrócio? ........... Negócio
Quem causa tal perdição? .................. Ambição
E o maior desta loucura?..................... Usura.

Notável desaventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.


Quais são os seus doces objetos?..............Pretos
Tem outros bens mais maciços? ........... Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos? ........ Mulatos.


Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.


Quem faz os círios mesquinhos? ............ Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas ? ................. Guardas
Quem as tem nos aposentos? ................. Sargentos.


Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos,


E que justiça a resguarda? ........................ Bastarda
É grátis distribuída? .................................... Vendida
Quem tem, que a todos assusta? .............. Injusta.


Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.


Que vai pela clerezia? .................................. Simonia
E pelos membros da igreja? ........................ Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha ..................... Unha.


Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica, é
Simonia, Inveja, Unha.


E nos Frades há manqueiras? ................... Freiras
Em que ocupam os serões? ...................... Sermões
Não se ocupam em disputas? .................... Putas.


Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.


O açúcar já se acabou? ................................. Baixou
E o dinheiro se extinguiu? .............................. Subiu
Logo já convalesceu? ..................................... Morreu.


À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.


A Câmara não acode? .......................... Não pode
Pois não tem todo o poder? ..................... Não quer
É que o governo a convence? .................. Não vence.



Quem haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Extra! Extra! A Maracutaia do Maracujá

Direto do país das frutas, a Frutolândia, o deputado Maracujamar Maracujildo, acusado de estar envolvido em uma maracutaia envolvendo verbas de merenda escolar pela divulgação desta foto retirada por um repórter infiltrado.
O deputado declarou em nota à imprensa, divulgada na rede social Fruitbook, a seguinte frase:
"Não desmaracutalizem o maracutantes".

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Vimos A Lua

Falando mais uma vez sobre literatura, esse poema é um dos que mais gosto, o li a primeira vez no ginásio (quinta a oitava série, antes da mudança de números das séries) em uma aula de português pela manhã. É o "Vimos a Lua", de Cecília Meireles.
Ele passa uma descrição bastante clara do que está sendo narrado, e esse é o motivo de sempre que leio essa poesia, me transporto para a mesma.
(Suspiro)...

Vimos a Lua nascer, na tarde clara.

Orvalhavam diamantes, as tranças aéreas das ondas
e as janelas abriam-se para florestas cheias de cigarras.

Vimos também a nuvem nascer no fim do oeste.

Ninguém lhe dava importância.
Parece uma pena solta – diziam.
Uma flor desfolhada.

Vimos a lua nascer, na tarde clara.

Subia com seu diadema transparente,
vagarosa, suportando tanta glória.

Mas a nuvem pequena corria veloz pelo céu.

Reuniu exércitos de lã parda,
levantou por todos os lados o alvoroço da sombra.

Quando quisemos outra vez luar,

ouvimos a chuva precipitar-se nas vidraças,
e a floresta debater-se com o vento.

Por detrás das nuvens, porém,

sabíamos que durava, gloriosa e intacta , a lua.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Caga No Çapato! O Auto da Barca do Inferno

Já postei vários trechos de livros que eu li e achei engraçado pacas.
Hoje eu  lembrei uma parte do livro O Auto da Barca do Inferno (escrito pelo português Gil Vicente em 1531) em que um louco chamado Joane ou simplesmente Joane, o Parvo entra na barca. É um linguajar totalmente sem nexo, doideira mesmo, mas eu achei muito engraçado. Sem falar na linguagem escrita do português antigo que parece ter muitos erros de português, mas não, era escrito assim mesmo...
A história, em suma, é a seguinte: Joane morre de caganeira, chega na barca em que o Diabo leva as pessoas ao inferno e aí começa a treta.

Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:

PARVO Hou daquesta!

DIABO Quem é?

PARVO Eu soo.
 É esta a naviarra (barcaça) nossa?

DIABO De quem?

PARVO Dos tolos.

DIABO Vossa.
 Entra!

PARVO De pulo ou de voo?
 Hou! Pesar de meu avô!
 Soma, vim adoecer
 e fui má-hora morrer,
 e nela, pera mi só.

DIABO De que morreste?

PARVO De quê?
 Samicas (talvez) de caganeira.

DIABO De quê?

PARVO De caga merdeira!
 Má rabugem (raiva) que te dê!

DIABO Entra! Põe aqui o pé! 

PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco (barquinho)!

DIABO Entra, tolaço eunuco (homem sem testículos),
 que se nos vai a maré!

PARVO Aguardai, aguardai, houlá!
 E onde havemos nós d'ir ter?

DIABO Ao porto de Lucifer.

PARVO Ha-á-a...

DIABO Ó Inferno! Entra cá!

PARVO Ò Inferno?... Eramá...
 Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
 Pêro Vinagre, beiçudo,
 rachador d'Alverca, huhá!
 Sapateiro da Candosa!
 Antrecosto (coluna/costas) de carrapato!
 Hiu! Hiu! Caga no çapato,
 filho da grande aleivosa!
 Tua mulher é tinhosa
 e há-de parir um çapo
 chantado (enrolado) no guardenapo!
 Neto de cagarrinhosa!
 Furta cebolas! Hiu! Hiu!
 Excomungado nas erguejas!
 Burrela, cornudo sejas!
 Toma o pão que te caiu!
 A mulher que te fugiu
 per'a Ilha da Madeira!
 Cornudo atá mangueira,
 toma o pão que te caiu!
 Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha!
 Dê-dê! Pica nàquela!
 Hump! Hump! Caga na vela!
 Hio, cabeça de grulha!
 Perna de cigarra velha,
 caganita de coelha,
 pelourinho da Pampulha!
 Mija n'agulha, mija n'agulha!

Chega o Parvo ao batel do Anjo e diz:

PARVO Hou da barca!

ANJO Que me queres?

PARVO Queres-me passar além?

ANJO Quem és tu?

PARVO Samica (talvez) alguém.

ANJO Tu passarás, se quiseres;
 porque em todos teus fazeres
 per malícia nom erraste.
 Tua simpreza t'abaste
 pera gozar dos prazeres.
 Espera entanto per i:
 veremos se vem alguém,
 merecedor de tal bem,
 que deva de entrar aqui. 

Como visto, Joane era doido, mas não era malicioso e foi para o céu.

Postagem em destaque

Dia das Laranjas Assassinas

Finalmente, a sequência da Noite das Laranjas Assassinas está aqui! É a continuação da história, explorando os acontecimentos das laranjas...